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Cia solo – entrevista com Pio Figueiroa

Foto: Pio Figueiroa - uma das imagens do projeto Ver do Meio, exposto em maio em São Paulo

Foto: Pio Figueiroa - uma das imagens do projeto Ver do Meio, exposto em maio em São Paulo

O fotógrafo recifense Pio Figueiroa integrou o que foi provavelmente o mais influente coletivo de fotografia brasileiro dos anos 2000. Depois de uma temporada de oito anos de fotojornalismo, com passagens pelo Jornal do Commercio, Editora Abril, Editora Três e Valor Econômico, fundou em 2003, com Rafael Jacinto, João Kehl e Carol Lopes, a Cia de Foto.

A Cia ficou conhecida por assinar coletivamente seus trabalhos, por uma forte pós produção das imagens e pela experimentação estética. Publicou em revistas brasileiras, como Veja, Revista da Folha e IstoÉ, e em títulos estrangeiros de peso, como Time Magazine, Newsweek e National Geographic, além de ganhar notoriedade por uma série de projetos autorais.

Um dos mais conhecidos é “Caixa de Sapato”, registro da vida pessoal e da intimidade dos integrantes, exposto no Museu de Arte Moderna de São Paulo (2008) e na Photographer’s Gallery, de Londres (2009). Outros, são “25 de Março”, sobre a rua de comércio popular paulistana, com o qual entraram para a Coleção Pirelli Masp, e “Carnaval”, uma série que foca rostos vistos de cima, em meio à multidão em festa, exposto na Photoquai de 2011, em Paris.

Com o fim da Cia de Foto, em 2013, Pio saiu em carreira solo. Nesta entrevista, ele fala sobre sua trajetória na fotografia, os projetos aos quais se dedica desde então e sobre a recente exposição "Ver do Meio", sobre a cidade de São Paulo, que aconteceu este ano, no Instituto Tomie Ohtake, e que, segundo Pio, vai estar em 2016 na Bienal de Arquitetura, na Itália.

Você trabalhou em jornais como o Valor Econômico e fez parte do coletivo Cia de Foto por dez anos, até ele terminar, em 2013. Quais os projetos e iniciativas a que tem se dedicado desde então?

Minha entrada na fotografia foi pelo fotojornalismo. Comecei no Jornal do Commercio, em Recife. Depois vim para São Paulo trabalhar na área editorial da Abril. Em seguida, fui para Editora Três e fiquei por lá até o projeto do Valor Econômico. Isso somado resulta em oito anos no mercado editorial. Daí surgiu a Cia de Foto, como forma de migrar desse mercado para um ambiente que permitisse mais pesquisas e projetos próprios. Hoje em dia desenvolvo meus projetos, estou sempre desenvolvendo novas historias. Sou editor de uma revista chamada Sueño de La Razon, que envolve editores de todos os países da América latina. Sou também editor do blog Icônica, junto com mais quatro professores/pesquisadores da fotografia. E estou desenvolvendo um roteiro de longa metragem via uma edital de cinema. Uma história que se relaciona com a fotografia.

Na Cia de Foto, o trabalho de vocês, tinha uma estética muito marcante, mas determinada de forma coletiva. Você tem hoje uma preocupação em buscar uma linguagem mais própria, de criar uma nova identidade visual? Se sim, de que forma tem buscado fazer isso?

Acho que sempre tive uma fotografia que flertava com a pintura. Até mesmo no jornalismo que fazia no Jornal do Commercio, fotografando em filme positivo na época (Próvia 100/ FUJI). Já ali procurava uma fotografia bastante definida pela luz, pelas cores. A Cia foi parte desse processo. Nesse sentido, continuo um procedimento que se repete agora e que vem antes da Cia, de me dedicar bastante a um lado pictórico. Não tenho muito uma preocupação de criar uma identidade, porque antes e durante o coletivo, meu procedimento de pesquisa era bem parecido, e se espelhava na experiência que tinha em fotografar com filmes cromo, nos quais a latitude era bem limitada, exigindo uma exposição mais cuidadosa, e, ao mesmo tempo, com a experiência que tinha no laboratório P&B, no qual usava muito o recurso de mascara para proteger áreas e dotar a imagem de diferentes gradações de luz e sombra. Essa pesquisa continuou e continua de forma análoga no mundo digital. E na Cia seguiu esse procedimento.

Como é, de modo geral, seu processo de trabalho? Varia de projeto para projeto? Ou existe um eixo comum entre todos eles? Que equipamento costuma usar para fotografar?

De modo geral, uso uma Canon Mark III e lentes fixas, 35mm ou 85mm. Fotografando sempre com luz natural e tentando captar as cenas em acordo com o histograma. Não ligo muito para o resultado da imagem na hora em que capto, mas prezo por um arquivo rico em informações. Depois, no Photoshop, é que chego onde quero. Esse procedimento pode ser visto como um eixo que me segue desde do início. Claro que lá atrás não havia o arquivo digital nem usava o Photoshop, mas seguia um procedimento parecido nas revelações e ampliações de meu material. Outro ponto, é que sempre fotografo situações que seguem uma abordagem de fotojornalismo. Geralmente não projeto muito o que irei fotografar. Leio a respeito, apuro, pesquiso, mas quando me lanço ao assunto deixo a vivencia compor a fotografia que expressarei.

A Cia de Foto ficou conhecida pela atuação como coletivo. O que acha de iniciativas semelhantes que surgiram desde então? Poderia citar alguns que te chamam mais a atenção?

A Cia de Foto foi pioneira em alguns aspectos, um deles foi o da produção coletiva. Mas outros se seguiram como o de romper com mercados específicos, atuar no jornalismo, na arte e na publicidade sem preconceito e conseguir ser aceito nesse meio. Outro ponto foi recorrer as pesquisa acadêmicas e aproximar essas pesquisas de nossa produção. Acho que esse três pontos, de alguma forma, ganharam uma força específica com a Cia, e hoje em dia, várias outras iniciativas super legais seguem esse movimento. Não penso com isso que foi a Cia que inventou nem um desses aspectos. Mas penso que houve uma atividade que dinamizou algo que estava como sintoma, prestes a acontecer.

O jornalismo e a fotografia relacionada a ele vivem uma crise séria de modelo de financiamento. Passar por uma redação era, e ainda é, uma etapa importante na formação de muito fotógrafos. Mas está cada vez mais difícil viver disso. Que caminhos enxerga hoje para profissionais jovens que tem a intenção de se dedicar ao fotojornalismo e à fotografia documental? E em termos de financeiros, como se bancar?

Não teria uma formula. Acho que a geração que vem aí é que vai nos ensinar como fazer. Nós fomos a geração da falência. A solução tem que vir da próxima. E eles tem que ter estima para isso, para criarem novos caminhos. Sou bem fã do Mídia Ninja, das iniciativas como a dos Jornalista Livres, e ainda espero, com entusiasmo, outras ideias e soluções. Acho que minha geração deve se colocar muito mais na condição de aprendizado do que tentar determine caminhos. Sou muito curioso pelas alternativas que a molecada pode trazer. Mas eles precisam de ensino e de uma comunidade que liberte eles ao experimentalismo.

Você expôs recentemente com os fotógrafos Mauro Restiffe e Arnaldo Pappalardo o projeto “Ver do Meio”, que teve como curador Nelson Brissac. Como surgiu a ideia da exposição?

É uma curadoria do professor Nelson Brissac. Ele parte de uma ideia de que São Paulo é uma cidade que não se deixa ver, um aglomerado de prédios que reconfiguram a nossa capacidade de uma apreensão geográfica mais convencional. Dessa ideia, ele convidou os três fotógrafos para fotografar a cidade em três abordagens, o centro da cidade, os eixos de deslocamento e as periferias.

Como foi feita a seleção das fotografias que entrariam? A quatro mãos, como o curador Nelson Brissac? Em parceria com o Mauro Restiffe e o Arnaldo Pappalardo?

O projeto teve três grandes momentos. Um início, no primeiro semestre de 2014, quando começamos a nos encontrar e discutir a abordagem. Recebemos aulas do Nelson sobre a ideia de exposição. Depois chegamos a um consenso sobre o tempo que precisaríamos para desenvolve-la, os custo de produção, etc.. Em um segundo momento, começamos o trabalho de campo. Aqui era comum nós nos encontrarmos com as fotos recém tiradas e escutar do grupo as impressões que tínhamos, assim como entender para onde estava caminhando cada pesquisa. Em um terceiro momento, veio a hora de editar e materializar a exposição. Essa parte ocorreu nos três meses que antecederam a abertura.

Vocês já haviam trabalhado juntos antes? Em que ocasiões?

Com o Nelson sim. Tinha participado de mais de um projeto anteriormente. Faz tempo que acompanho a pesquisa dele, desde dos movimentos que ele provocava com o Arte/Cidade, e as ocupações artísticas na Zona Leste. Já o Mauro, sou bem fã do trabalho. É um fotógrafo que admiro muito, acho uma pesquisa madura, significativa, importante para a historia da linguagem aqui no Brasil, no que se relaciona com a arte. O Pappalardo foi uma grande apresentação. Lembrava dele muito mais pelo trabalho na publicidade, e sempre o vi como um grande cara. Nesse ano, essa impressão se tornou certeza e foi uma convivência que promoveu uma amizade.

É interessante notar como a visão de cada um de vocês sobre a paisagem urbana é diferente. O Pappalardo fotografou muito edifícios comerciais e residenciais, as fotos são coloridas e chamativas. Tem muito da poluição visual e da mistura de cores da cidade. As fotos do Restiffe são em P&B, feitas em filme, grão bem aparente. As tuas tem principalmente pessoas.

Aqui eu acho que tem dois aspectos legais de destacar. O primeiro é a ideia do curador de procurar nessas pessoas uma complementariedade que resultasse numa exposição rica em abordagens. Nesse sentido, essa mistura de estilos tem um tanto de aposta e sensibilidade do curador. Um Segundo aspecto é perceber o quanto o grupo foi determinando a própria pesquisa do Nelson, o quanto a intenção curatorial inicial foi reformulada no embate com essas três traduções de olhares e procedimentos artísticos.

Qual a expectativa com o projeto? A ideia é levantar algum tipo de discussão que vá além da estética da fotografia? Se sim, qual?

Minha expectativa era responder as provocações que o próprio grupo engendrava. Como eram pessoas fortes, dedicadas ao trabalho, o ambiente foi muito combatível, e pensar no processo, ou dar conta do processo já foi um desafio que exigiu muito comprometimento. O que do trabalho suscitará discussões ainda é difícil dizer, pois ainda não o vi com distanciamento. Com certeza a questão estética é uma das entradas fortes de discussão, os diferentes estilos e procedimentos. Acho também que a exposição consegue discutir a ideia curatorial com abordagens bem especificas. Acho que o Pappalardo tem uma distancia criteriosa com a cidade. De alguma forma ele planifica São Paulo, constitui uma cidade sem sombras, como formas que se acumulam sem permitir distanciamentos entre elas. O Mauro faz uma fotografia que não sabemos ao certo se ele fala de um passado ou mesmo de um futuro catastrófico. As fotos dele ne P&B granulado nos colocam em algum intermédio de tempo, no qual fica difícil de saber se a São Paulo que constitui já é ruína, ou se ele antecipa um future esmaecido pela impossibilidade que essa cidade teria de se realizar. Acho que fico no meio, e me debruço nas pessoas. E são a gente da cidade, de uma lado de sua história que não admite vencedores.

Várias das imagens suas que aparecem na exposição são de projetos anteriores, certo? Alguma foi feita especificamente para a exposição? Se sim, quais?

As fotos são feitas para o Ver do Meio. Em alguns momentos, usei fotos da pesquisa em aplicações imediatas, na medida que era solicitado. É como você estar estudando um assunto amplo e te pedirem um texto breve sobre um aspecto, ou um recorte. Foi o faz, usando um momento do que desenvolves. Tem fotos no Ver do Meio que foram usadas também no projeto que fiz com a Magnum e com o IMS.

Quem são hoje as suas principais referências na fotografia, no Brasil e lá fora? Por quê?

São os pesquisadores teóricos. Filósofos, professores. Muito mais que fotógrafos. Me emociono muito quando encontro a fotografia como campo conceitual. E sou um público na espera por gente nova, desse eu ainda serei fã.

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Cuba - ruínas e mitos

Minha exposição sobre Cuba, na Escola da Cidade. Aparece lá pra conferir. Fica aberto das 9h às 20h, de segunda a sexta-feira. Aos sábados, abre das 9h às 18h.

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Foco social - entrevista com Tércio Teixeira

Tércio Teixeira, um dos cinco membros do R.U.A. Foto Coletivo, faz parte de uma corrente de profissionais da imagem que acredita no potencial de transformação social da fotografia. Ao lado de Rodrigo Zaim, Jardiel Carvalho, Isabella Lanave e Felipe Paiva, participou ativamente da cobertura das Jornadas de Junho de 2013 e de uma série de outras manifestações que pipocaram pelo Brasil desde então. Em paralelo, registra continuamente a violência latente e a dura realidade do  dia a dia em comunidades cariocas e paulistas como forma de levar as pessoas à reflexão e chamar a atenção para problemas negligenciados por boa parte dos grandes veículos de comunicação.

Um dos exemplos mais recentes do trabalho de Teixeira é a exposição Essência, aberta até o dia 21 de junho, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro (Avenida Vereador Alceu de Carvalho n.1020). Nela, ele reúne imagens feitas em um período de três anos, em comunidades paulistas e cariocas. Nas palavras do próprio Teixeira, a exposição mostra crianças que, não obstante viverem em meio ao caos, a violência e a miséria, preservam a integridade e virtudes que constituem a sua essência. O objetivo da mostra, diz, é jogar luz e angariar apoio para o projeto de oficina de fotografia idealizada pelo pastor Julio Mesquita, que será realizado na igreja batista Novo Horizonte, para crianças das comunidades César Maia e adjacências. Das 21 fotografias expostas, três serão leiloadas no dia 20 e, as demais, vendidas para apoiar a iniciativa.

Na entrevista que segue, Teixeira, hoje com 34 anos, fala sobre sua história na fotografia, a origem da exposição Essência, o papel político da fotografia e projetos paralelos por vir. 

De onde vêm o seu gosto por fotografia?

Tive influência do meu pai fotografo, que tinha loja de fotografia. Cresci vendo ele revelar rolos de filme em laboratório. Comecei a fotografar na adolescência, com uma Zenit do meu pai, e me formei pelo Senac, em 2006.

Que temas te interessam? Por quê?

Tenho interesse por diversos temas, porém me dedico mais a causas humanistas, entre elas desigualdade social, miséria e abandono, entre outros. Vejo que através da fotografia temos uma ferramenta importantíssima para abordar assuntos pelos quais grande parte da mídia não se interessa. Nasci em uma comunidade em que a violência e o abandono ainda são presentes e com isso posso mostrar, através da minha fotografia, o que cresci vendo e ainda vejo. A fotografia tem o papel de aproximar as pessoas dos fatos sociais e políticos, denunciar o abuso de autoridade, além de trazer a reflexão através da qual se buscam ações e soluções.

Fale um pouco sobre a exposição Essência, o trabalho que está expondo atualmente no Rio, no Recreio dos Bandeirantes?

A exposição veio para descortinar o projeto de oficina de fotografia que será realizada na igreja batista Novo Horizonte para as crianças das comunidades do César Maia e adjacências, idealizada pelo pastor Julio Mesquita. A exposição mostra crianças que, não obstante viverem em meio ao caos, a violência e a miséria, preservam a integridade e virtudes que constituem a sua essência. Assim propõe algumas reflexões tais como: quais as perspectivas dessas crianças? Quais caminhos elas tem? Nós, como sociedade, somos responsáveis? Como podemos oferecer alternativas dignas? As fotos foram realizadas em comunidades do Rio de Janeiro e São Paulo.

Como e quando surgiu a ideia do projeto?

Estávamos com um projeto em mente, de fotografar casamento de noivos que não tem condições de pagar por um álbum. Paramos na Comunidade Batista Novo Horizonte (CBNH) e o pastor Julio não só abraçou a idéia como convidou para o projeto da oficina de fotografia, topamos na hora e o projeto doa noivos acabou sendo adiado.

Qual o fio condutor? 

O pastor Julio Mesquita vem desenvolvendo diversas atividades educativas e culturais na comunidade César Maia e adjacências. Quando ele me conheceu, pensou na hora neste projeto. Não houve um planejamento. Estamos metendo a cara e pedindo ajuda para dar continuidade.

Quanto tempo levou fotografando e que equipamento usou? 

Tem fotos do ano de 2012 a 2015. Utilizei a D7000 (Nikon).

O convite para a exposição diz que a renda de fotos do projeto leiloadas vai para a oficina de fotografia voltada aos jovens carentes? O que espera com o projeto, em termos sociais?

A meta é principalmente produzir “bons” cidadãos, buscando preservar a essência da criança, abrindo oportunidades. Não é à toa que as crianças são consideradas “o futuro da nação”.

O projeto terá algum desdobramento em livro ou mesmo no site do R.U.A? Você pretende continuar a fotografar a comunidade? 

A princípio não será publicado em livro. Algumas fotos da exposição foram publicadas no site, outras era inéditas. Quanto ao projeto da oficina, ao final do curso haverá uma exposição com as fotos dos alunos. Certamente continuarei fotografando as comunidades. Mas sempre procurarei fazer disso uma oportunidade de dar visibilidade para os problemas que afligem essa parte da sociedade mais carente, e não uma exploração.

São quantas fotos e quantas serão leiloadas?

São 21 fotos. Três serão leiloadas e as demais estão a venda. Quem desejar comprar pagará o preço que desejar contribuir com o projeto. Cinco já foram vendidas. O leilão ocorrerá dia 20 de junho deste ano.

Como tem sido a repercussão?

Felizmente, foi um sucesso. Apenas duas pessoas da comunidade disseram ter ido a alguma exposição. Foi incrível ver as pessoas verem sua primeira exposição. Ficaram encantadas com o trabalho e isso é muito gratificante. 

Em que outros projetos você está trabalhando?

Estamos fazendo um trabalho no Jardim Gramacho, no município de Duque de Caxias, em parceria com o IdeMissoes, um projeto de Anderson Lima, que já tirou pessoas do tráfico e ajuda as famílias da região. Vamos retratar a vida dessas famílias, e divulgar esse projeto. Podemos adiantar que este projeto será longo.

Quem são os suas grandes referências na fotografia, aqui e lá fora? Por quê?

Os trabalhos de Cartier-Bresson, Robert Capa e James Nachtwey,  são inspiradores. No Brasil, admiro muito o trabalho do Maurício Lima. Suas fotografias são humanistas, envolvem pessoas esquecidas pela sociedade. Gosto de trabalhar o lado social, por isso me identifico com esses fotógrafos.

Que equipamento costuma usar no dia a dia? 

Hoje, trabalho com a Nikon D600. Gosto de trabalhar com lentes fixas.

(clique sobre a foto que abre a entrevista para ver outras imagens feitas por Tércio Teixeira)

 

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Da fé às pedras - entrevista com José Bassit

José Bassit, ou Zé Bassit, como é mais conhecido o Zé, começou na fotografia pela imprensa. Paulistano, nascido em 1957 e formado em Comunicação Social pela Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM), publicou as primeiras fotos lá por 1985, 1986, quando entrou no Estadão. Passou depois pela Folha de S.Paulo, pela Vejinha, Época e Meio&Mensagem, antes de se lançar como freelancer, em 1998.

Foi nessa época também que embarcou em seu mais conhecido projeto autoral, “Por onde anda a fé”. A ideia era fotografar grandes manifestações religiosas de fé pelo Brasil. E o Zé saiu a viajar pelo Brasil. Esteve em Juazeiro do Norte, Canindé, Barbalha e Sobral, no Ceará. Em São Paulo, passou por Aparecida, Piracicaba, São Luiz do Paraitinga, São Sebastião, Praia Grande, São Bernardo do Campo. Visitou Bom Jesus da Lapa e Santa Brígida, na Bahia. Em Minas Gerais, Ouro Preto e São João Del Rey. Em Goiás, foi a Cidade de Goiás. No Distrito Federal, ao Vale do Amanhecer. No Pará, a Belém.

O esforço deu resultado. Em 2003, o projeto virou o belíssimo livro “Imagens fiéis”, editado pela Cosac&Naify, com 101 imagens. As fotos foram parar também na Coleção Pirelli Masp, uma das mais prestigiadas do país.

Mais recentemente, Zé voltou a botar o pé na estrada. Agora para fotografar pedras. Mas pedras, Zé? Isso mesmo. Iniciado em 2012, o projeto foi batizado “Kepha”, pedra em aramaico. Na entrevista que segue, ele fala um pouco sobre o que o levou a escolher o tema, sobre projetos passados e futuros e sobre assuntos polêmicos na fotografia, como o limite no tratamento de imagens.

Frame35 - Gostaria que você contasse um pouco sobre o projeto novo que está tocando, de fotografar pedras. O que você busca? É a estética, são as formas das pedras? Ou as pedras fotografadas são pedras com histórias relacionadas?

José Bassit - Busco retratar a beleza das pedras em seus diferentes cenários. Suas formas contam a história do tempo. Foram desenhadas através de intempéries de toda sorte: ventos, águas, junções, fendas, ou seja, são mesmo a máxima e contundente expressão do tempo. E isso é o que me instiga.

Frame 35 - De onde surgiu a ideia?

JB - Comecei a pesquisar sobre possibilidades de fotografar a natureza e me encantei com a incrível quantidade e diversidade de formações rochosas passíveis de ser encontradas em tantos recantos brasileiros.

Frame 35 - Há quanto tempo está desenvolvendo o projeto?

JB - Desde janeiro de 2012 venho desenvolvendo “Kepha”, que significa pedra em aramaico. Desde então, já visitei e retratei sete lugares diferentes: Praia de Itaguaçu em Florianópolis, Vale da Lua na Chapada dos Veadeiros, Lajedo do Pai Mateus e Parque Nacional da Pedra da Boca na Paraíba, Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira - Petar em São Paulo, Chapada Diamantina na Bahia e Vale do Catimbáu em Pernambuco.

Frame35 - Tem previsão de término?

JB - Ainda faltam pelo menos seis lugares que gostaria de visitar. No entanto, esse tipo de trabalho pode se estender por muitos anos.

Frame35 - Que equipamento está usando e por quê? (câmera, lente, é filme ou não, etc.)

JB - Uso uma câmera Canon 5D Mark II porque ela me garante a qualidade que espero para grandes ampliações.

Frame 35 - Você tem um longo trabalho sobre fé no Brasil, que resultou no livro “Imagens Fiéis”, publicado pela Cosac & Naify, e que tem fotos também na coleção Pirelli Masp. Deu ele por encerrado? Ou ainda está trabalhando nele?

JB - Jamais darei esse trabalho por encerrado, uma vez que foi um dos que mais me motivou e me fez orgulhoso. Sua continuação será feita com manifestações religiosas fora do Brasil.

Frame35 - Zé, você também tem um projeto que é o de fotografar barbearias tradicionais de São Paulo. Chegou a fazer uma exposição e queria publicar. Como está agora?

JB - Tenho material suficiente e muito interessante para fazer um livro. No entanto, a dificuldade está em conseguir autorização do uso de imagem. Muitos dos retratados já faleceram ou se mudaram...

Frame 35 - Em que outras ideias têm trabalhado?

JB - Em um projeto chamado Iemanjá, Senhora das Águas, sobre as manifestações religiosas afro-brasileiras.

Frame35 - Como vê a nova geração de fotógrafos que está surgindo no Brasil? Acompanha o trabalho de coletivos como o Selva SP e outros?

FB - A nova geração tem “fome de bola”. E o fotojornalismo está na veia dessa galera, principalmente no Selva SP. Gosto disso.

Frame 35 - Tem acompanhado a cobertura fotográfica dos protestos desde meados do ano passado? O que acha dela?

JB - Sim. Acho que tem muita coisa boa, de alto nível, feita por gente competente e acima de tudo, corajosa!

Frame35 - O trabalho de que fotógrafos brasileiros e gringos te chama mais a atenção hoje? Por quê?

JB – Dos brasileiros, gosto muito do Christian Cravo e do Julio Bittencourt que fazem fotojornalismo e fotografia documental com senso estético altamente apurado. Entre os gringos, me encanta o trabalho da Cristina Garcia Rodero na Magnun. Ela é fantástica.

Frame 35 - Existe hoje uma grande discussão a respeito dos limites do uso da tecnologia de tratamento de imagem na fotografia e, em especial, no fotojornalismo. Como vê esse debate? Para você, qual é esse limite?

JB - O limite em qualquer tipo de fotografia está entre manipulação e tratamento de imagem. O tratamento existe para acertar pequenos detalhes e isso era feito inclusive com filmes. Manipulação descaracteriza o fotojornalismo, na minha opinião.

Frame 35 - Assim como o jornalismo, a fotografia passa por um período de crise. O preço pago por fotos no mercado está bastante baixo, de modo geral. Como vê o futuro da profissão?

JB - Creio que ter fotos em agências é uma opção interessante – uma forma de ter seu trabalho “fora das gavetas”, exposto o ano todo.

Frame 35 - Que dica daria para quem está começando na profissão?

JB - Fotografe bastante, faça todos os cursos que puder, pesquise muito os sites de bons fotógrafos, apure o olhar.

Frame35 - De modo geral, no dia a dia, que equipamento usa?

JB - Minha inseparável Canon 5D Mark II.

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